segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Andragogia - Nova arte de formação

Andragogia é a arte ou ciência de orientar adultos a aprender, segundo a definição creditada a Malcolm Knowles, no artigo intitulado «Andragogy, not Pedagogy» publicado em 1967.
A andragogia constitui um modelo de educação de adultos a ter em consideração na prática educativa, em contraposição à pedagogia, que se refere à educação de crianças (do grego paidós, criança).
O professor tradicional passou a ser um facilitador de aprendizagem que está sempre presente no processo de aprendizagem e possui elevadas responsabilidades de orientação e facilitação deste processo. Por outro lado, o aprendente adulto é considerado como alguém responsável, ativo, participante e internamente motivado para a realização de aprendizagens.
Knowles condensou os principais pressupostos da andragogia e contrastou-os com os pressupostos pedagógicos. Através deste contraste, o autor procurou salientar a inadequação da ideologia pedagógica na lide com adultos e a necessidade de implementar um modelo inovador e mais pragmático. Contudo, a aproximação das duas perspetivas que Knowles opera não se baseia na aceitação da pedagogia como um modelo adequado em determinadas circunstâncias, mas na suposição de que o modelo andragógico engloba o modelo pedagógico e que, por isso, os adultos podem encetar aprendizagens tendo por base este modelo, mas com o propósito de evoluir para a utilização do modelo andragógico.
Desta forma, podemos dizer que a distinção entre a atuação de um pedagogo e um andragogo resulta da aplicação do método pedagógico, enquanto que o pedagogo o aplica escrupulosamente, o andragogo procura que os aprendentes se responsabilizem, progressivamente, pelas suas próprias aprendizagens.
Com efeito, este modelo baseia-se em cinco premissas de base acerca das características dos aprendentes adultos, que os diferenciam das crianças, a saber os adultos:
a) necessitam de saber o motivo pelo qual devem realizar certas aprendizagens;
b) aprendem melhor experimentalmente;
c) concebem a aprendizagem como resolução de problemas;
d) aprendem melhor quando o tópico possui valor imediato e os motivadores mais potentes para a aprendizagem são internos.
Consequentemente, para que haja aprendizagem é necessário estabelecer um clima propício. Isto porque, os adultos, quando receosos ou ansiosos, inibem-se de se exprimirem. Desta forma, só aprenderão com profundidade se sentirem que as suas diferenças são respeitadas, que os seus erros não serão alvo de comentários e que a colaboração é incentivada. Igualmente, a motivação dos estudantes deve ser encorajada, bem como as relações de suporte interpessoal e de participação interativa, promovendo‑se desta maneira a autoestima do aprendente.
Segundo Knowles, o estabelecimento do clima é um dos elementos mais importantes, pois se um facilitador e os aprendentes não atingirem um clima positivo, as aprendizagens não serão facilitadas e o sucesso do trabalho, que iniciaram em conjunto, encontra-se seriamente comprometido.
Contudo, o aprendente tem que ter uma responsabilização progressiva nas suas aprendizagens, daí a importância de estabelecer um contrato de aprendizagem, onde ele é subtilmente desafiado a pensar porque é que pretende aprender algo. Este contrato envolve o estudante na tomada de decisões acerca do que irá ser aprendido, como será aprendido, quando, e na avaliação das aprendizagens, fomentando a autodireção do aprendente bem como a sua autoestima.
Podemos ainda acrescentar que, o facilitador de aprendizagem e o aprendente têm responsabilidades no processo educativo:
O facilitador de aprendizagem deve ter em conta que os adultos são muito diferentes entre si e que são capazes de aprender. Daqui retira-se o argumento de que na educação de adultos o facilitador não pode ser um mero transmissor de conhecimentos, pois é da sua responsabilidade a adequação das aprendizagens aos alunos, assim como contribuir para o desenvolvimento da autodireção das aprendizagens. Este facilitador deve envolver os aprendentes no seu processo de aprendizagem, ajudando-os a formular os seus próprios objetivos de aprendizagem, pois os adultos nem sempre conseguem identificar as suas necessidades de aprendizagem, nem conhecem os recursos e materiais a que podem recorrer.
O aprendente, por sua vez, deve perceber os objetivos de aprendizagem que foram traçados como sendo seus e elaborar um plano prévio das aprendizagens que pretende efetuar. Deve, ainda, procurar estar envolvido nas tomadas de decisão relativas às diversas opções, sem esquecer que as aprendizagens efetuadas devem possuir um sentido de progresso face aos objetivos estabelecidos, culminando com a aplicação de procedimento de autoavaliação.
Todavia, o desânimo face às novas aprendizagens é algo frequente na população adulta e, em todos estes problemas, o facilitador deve ter respostas a dar, conselhos, críticas ou simplesmente tempo para ouvir o aprendente e debater com ele o evoluir do processo.
Por último, o facilitador de aprendizagem não deve usar símbolos que associam a situação de aprendizagem atual com as situações de aprendizagem dos adultos quando eram crianças, de forma a não promover sensações agradáveis. O facilitador deve procurar assumir-se num patamar simétrico ao do aprendente.
Assim, e face ao exposto, considera-se que a andragogia constitui um modelo de educação de adultos, claramente mais adequado a esses estudantes que a pedagogia tradicional e pode ser aplicado numa grande variedade de atividades educativas. Por sua vez, o facilitador de aprendizagem é uma entidade sempre presente e com elevadas responsabilidades, sendo o seu auxílio diferente do tradicional; tal como indica o célebre provérbio chinês “não lhes dá o peixe, ensina-os a pescar”.


Pedagogia vs Andragogia










Referências Bibliográficas
Nogueira, S. M. (2004). A andragogia: Que contributos para a prática educativa? Revista Linhas.
Canário, R. (1999). Educação de Adultos: um campo e uma problemática. Lisboa: Educa.
Osório, A (2003). Educação Permanente e Educação de Adultos. Lisboa: Horizontes Pedagógicos.


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